segunda-feira, 24 de novembro de 2008

In Vinu Veritas

Numa cidade de um milhão sentiu-se sozinho. Sentimento curioso, tantas almas presentes e esta sentia-se só. A alma divagava, num telhado observava as estrelas, o céu, as nuvens, o vento seu irmão.
O vinho tornara-o introspectivo como um copo de tinto encorpado, denso em que o sabor das notas de madeira, baunilha e especiarias ainda não se tinham soltado o suficiente. Resumindo, sentia-se uma merda! Não podia negar… o seu “Dark Side” era poderoso, fazia-o duvidar de si e de tudo em que acreditava. O seu optimismo que era uma das luzes brilhava intermitentemente, parecia uma vela sujeita ao vento, medrosa, tímida, frágil como se o mínimo sopro fosse suficiente para a apagar.
Não sabia porque escrevia. Escrevia, pura e simplesmente. O vento uivava, sentia-o nas suas faces, na sua mão direita um copo de vinho, na esquerda um cigarro que não era mais que um meio de atingir uma morte mais rápida. Parecia um contra-senso adorava a vida, a nada dava mais valor, por isso sabia que a sua morte só ia chegar quando esta estivesse inclinada, a retirar-lhe o último sopro.
Pensava em países, inúmeros, incontáveis…no desejo de escapar, fugir, fugir para bem longe, no silêncio e no absurdo das palavras. Não que amasse o silêncio incondicionalmente, mas por vezes sentia que necessitava dele para não ser submerso num turbilhão. Excesso de barulho atingia-o, mesmo no telhado palavras feriam-lhe os ouvidos, enquanto o vento soprava nuvens que encobriam estrelas.
Ao mesmo tempo sentia-se um peso excessivo, impossível de suportar. Duvidava que fosse boa ideia estar presente, queria eclipsar-se, na hora em que a melancolia o invadia e os elementos do silêncio se transformaram no ombro que amparava.

2 comentários:

MaB disse...

Para uma noite inesquecível, um texto eloquente, sem hesitações.

Também eu já procurei silêncio neste céu estrelado. Também eu pensei, entristeci, desvaneci, renasci.
E também já lá chorei lágrimas gordas, cheinhas de 'sapos', de nós que apertam o peito. É confortável saber que temos mais coisas em comum do que aquilo que poderíamos imaginar no reencontro.

Beijo beijo...beijo*

Rita disse...

Perfeito! Completamente inesperado e surpreendentemente perfeito!
A descrição de um momento que, muito provavelmente já fez parte do pensamento de muitos de nós. Com alguma alteração no local, na forma mas com a mesma essência.
Tenho que dar-te os meus sinceros parabéns.
Este blog foi uma surpresa muito agradável e vai ser, sem sombra de dúvidas, um local a visitar assiduamente.

Beijinho
Parabéns