segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Porto & Douro Wine Show


Imagem em: http://www.portodourowineshow.com/


Acordou e olhou para o telemóvel. Uma luz piscava e no ecrã: 1 mensagem recebida. Com o braço ainda trôpego pegou-lhe e começou a ler:
-Hello! Tens planos p lgo a tardinha? q tal o Porto & Douro wine show, no convento do Beato?beijo
Porque não? Nunca tinha estado num evento semelhante e provar vinho da zona do Douro era tentador. Como amante de vinho, aceitou o convite com um sorriso nos lábios.
Chegou à baixa, zona de encontro relativamente atrasado. Felizmente a sua companhia tinha estado com amigas e não esperou mais que dez minutos. Deslocaram-se para o carro que estava estacionado perto do teatro Mário Viegas e seguiram para o Convento do Beato. Nenhum dos dois sabia a localização, apenas tinham uma vaga ideia. Então pelo caminho foram perguntado várias vezes, encontrando mesmo uma pessoa que ia para o mesmo sítio, oferecendo-lhe boleia.
Finalmente chegaram e estacionaram onde era possível. Dirigiram-se à entrada, apresentaram o convite e compraram dois copos para a degustação. O espaço apresentou-se-lhes em todo o seu verdadeiro esplendor. Arcadas de mármore colorido delimitavam o espaço, onde decorria a exposição e para além dos muitos expositores de vinho, estavam lá alguns carros de gama alta expostos de modo a associarem a marca ao evento.
Observaram e a organização pareceu-lhes bem conseguida, apesar de muito compacta. Porém a quantidade de expositores era elevada, o que obrigava a uma boa gestão do espaço. Circularam lentamente, parando para provar diferentes vinhos consoante a intuição ou o conhecimento de determinada marca. Havia de tudo, brancos, tintos, reservas, portos, moscatéis, rosés. Sabores frutados, encorpados, leves, abertos, adstringentes, com notas de baunilha, especiarias e madeira (carvalho francês sobretudo), doces, suaves. Diferentes castas, aragonez, bastardo, castelão, touriga franca, touriga nacional, moscatel, arinto, cercial, viosinho. Envelhecidos ou não em madeira durante períodos variáveis. Todas estas múltiplas variantes e muitas mais foram sendo degustadas, ou melhor bebidas.
A dada altura chegou uma das famosas “amigas das amigas” e inicialmente considerou-a pouco simpática, uma vez que nem se apresentou e apenas cumprimentou a amiga. Quase simultaneamente apareceu uma individualidade jornalística desse país, sem qualquer snobismo aparente e diga-se bastante acessível, começou a falar com eles. Bem reformulando, com elas. Uma vez que ele se mantinha um pouco à margem da conversa, observando atentamente a cena que decorria à sua frente, indo buscar amiúde uns copos de vinho.
Basicamente essa consistia, num senhor respeitável a falar com duas jovens aspirantes a jornalistas. Das suas experiências, dos seus filhos, dando conselhos e dar cartões de contacto com número de telefone, e-mail e até MSN. A dada altura da conversa, a tal “amiga da amiga” virou-se para trás sorridente e apresentou-se, revelando uma face mais afável e simpática. Após o término deste momento, duas frases ficaram-lhe a soar nos ouvidos, ambas proferidas por tal ícone:
- Portugal é um país de tribos, eu conheço as tribos mas não faço parte delas; e
- Não nos devemos plastificar.
A degustação continuou como até aí, mas desta vez havia três almas que sorriam, falavam e provavam ou bebiam. Uma novidade foi naturalmente imposta pela nova alma, deslocarem-se à “tenda de fumo” para matarem alguns cigarros. Nessa altura o vinho começava a provocar estragos e a fazer-se sentir. A língua estava mais solta, as cabeças mais leves, existindo uma cumplicidade latente.
A feira estava em fase terminal, mas continuavam a “prova”. Sentia o gosto intoxicado mas não parava, estava a gostar do efeito. Nos últimos momentos ficaram junto de uma banca, onde elas apreciavam quem lá trabalhava e ele o vinho que lá existia, para além de verificar que muitas garrafas eram deixadas ao abandono, grande parte já abertas. Como amigo do ambiente decidiu “reciclar” e levar algumas para casa, nessa altura apenas estavam presentes pessoas que trabalhavam no sector vinícola. As amigas faziam sucesso, apresentações sucediam-se, números eram trocados e ele findou a sua missão quando encheu uma caixa.
Quando abandonaram o convento já passava da hora de fecho, que naquela altura a única religiosidade que emanava era de templo de Baco.
Entraram novamente na viatura e seguiram para casa com um jantar combinado. Aí operou-se um pequeno milagre gastronómico e à mesa juntaram-se cinco pessoas que se conheceram (quase todas) numa exposição de vinho e acabaram a noite juntas. A boa disposição era rainha na hora em que o imprevisível e o inesperado demonstraram, que a vida não passa de um caminho que é trilhado no presente.


23/11/2008 (em conjunto com a publicação de In Vinu Veritas)

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