domingo, 5 de outubro de 2008

Vindima: Máquina do Tempo

Tudo começou com um e-mail. Um convite para um dia diferente, onde as paisagens vínicolas seriam as rainhas. Uvas, videiras, terra, lagares, serra, vegetação, pessoas, petiscos eram os atractivos principais.
Olhou para o convite e quis dizer que sim imediatamente. Porém nem sempre decisões precipitadas são as melhores, porque? Porque neste caso existiam alguns condicionantes, e dizer que sim para depois desmarcar, seria pior que dizer que sim com certeza, uns dias mais tarde.



Os dias passaram, as certezas aumentaram e a resposta foi comunicada, com a alegria que teve na altura do convite. Os detalhes foram acordados facilmente, quando duas vontades têm o mesmo propósito, tudo se conjuga para que o final seja o desejado.
No dia e hora marcada, ela deu-lhe boleia. Ambos despertos, apesar de na noite anterior por motivos diferentes, terem dormido pouco tempo. A viagem correu com normalidade, e naquela hora matinal trocaram algumas impressões sobre o futuro, que se abatia sobre ambos.
A viagem foi rápida, apenas oitenta kilometros e em auto-estrada, distavam dos pontos de partida e chegada. Ele pediu para passar por casa, afinal tinha de mudar de roupa e dar os bons dias à sua mãe. A troca foi rápida e ainda houve tempo para dedo e meio de conversa. Afinal não é de bom tom deixar os outros, muito tempo à espera, nem sequer não dizer nada a quem não se vê há uma semana.



Desceu as escadas do prédio com uma alegria infantil, a hora pela qual esperara durante essa semana aproximava-se. Fizeram o caminho para casa dela, pois agora era a sua vez de dar os bons dias à sua família, e inteirar-se se a vindima já tinha começado, ou se começaria em breve. Na visão dele, a breve visita àquela casa, funcionou como uma viagem ao passado. Ao entrar por aquele portão, e ao ver o jardim, recordou-se das inúmeras festas de aniversário passadas na sua infância. As horas intermináveis a jogar à bola, e a sujar as calças de relva nos joelhos, pois o seu sonho de infância era ser guarda-redes do Benfica. As horas a andar de baloiço, a jogar às escondidas, à apanhada, ao quarto escuro. Tudo naquela casa, que ele já não visitava à tanto tempo, e tantas recordações lhe traziam.
Entraram na casa pela cave, que ele recordou como cheia de mesas, e toalhas de papel. Pratos, copos e guardanapos coloridos, os confetis, os doces, os salgados, o barulho do riso das crianças, e dos adultos. Tudo tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. As escadas desembocaram num pequeno corredor, que levava tanto à sala de estar, como à cozinha. Observou e viu como os anos se abatem sobre as casas, e como as mudanças ocorrem. Tudo naquele espaço tão antigo, era novo aos seus olhos, porque pouco, era igual ao que tinha sido, anos antes.

Cumprimentou a mãe e a avó, a tia, uma prima e o irmão. E ficou estupefacto principalmente com o irmão, nas crianças de outrora o tempo intensifica-se. Depois dela se inteirar que a vindima ia começar, transportaram um cesto com alguns ingredientes, que iriam proporcionar o repasto da hora de almoço, para o lagar.
O lagar, construído num dos sopés da serra, dominava a vista sobre a vinha. Esta estendia-se sopé abaixo, com vista para algumas pequenas aldeias, para os moinhos e obviamente para a própria serra. Na altura da chegada, já se encontravam pessoas presentes, prontas a começar a vindima. Entrou dentro do lagar onde tudo era novo ou recente, pois este apenas tinha um ano de vida. Cumprimentaram os presentes e deixaram o cesto na cozinha, e receberam cada um uma tesoura e um chápeu de palha, ambos indispensáveis, para as próximas horas.
A vindima começou, mas antes ainda teve tempo para tirar algumas fotos à paisagem envolvente, e às pessoas que circulavam naquele espaço. As caixas de plástico branco espalhavam-se filas abaixo, prontas a receber as uvas, que mais tarde se transformariam em vinho. Os movimentos eram rápidos e fáceis de mecanizar, afinal para quem passa dias em frente ao computador, este tipo de trabalho manual no meio da natureza é dos mais gratificantes e relaxantes. A companhia ajudava, e o tempo passava-se sem se dar por isso. O riso, a descontracção e a boa disposição imperavam, espalhando-se pela vinha naquela hora matinal. Filas iam sendo corridas, por diferentes mãos, que com movimentos certeiros enchiam caixas, à medida que as videiras se esvaziavam.


Ao meio dia, a vindima findou. Mas não a boa disposição, essa manteve-se inalterada. Visitou o restante lagar, o local de armazenagem do vinho, as pipas, as cubas, aqueles espaços onde a magia do vinho acontece.
Subiram para a zona da cozinha e do terraço, onde se mantiveram até à hora do almoço. Este começou, com todos os presentes que ajudaram, tanto na vindima, como na confecção daqueles petiscos. Favas com chouriço, arroz com entrecosto, salada de grão, saladas, pão de milho e trigo. Vinhos, sumos, refrigerantes, semi-frios, salada de fruta, doces variados. Enfim um manjar, com uma vista de sonho, e com uma companhia à altura da ocasião.
Depois de almoço, e passado uns momentos agradeceu o convite endereçado, e sentiu gratidão por tudo o que aquele convite uma semana antes, lhe proporcionara. Uma viagem ao passado, ao presente e ao futuro, tanto daquela família, como da sua própria vida.

2 comentários:

MaB disse...

Que bom sentir que, de um momento para o outro, se podem fazer viagens por sítios tão especiais.

Fica o gosto de ter podido proporcionar uns 'quilómetros' e umas 'paragens' a essa odisseia!

Ainda bem que gostaste assim tanto! Para o ano há mais!!!:D

beijo

(com que então, guarda-redes do Benfica!!ahahah)

Anónimo disse...

Realmente, guarda-redes do Benfica!??!? Incrível, como tu com um "simples" (não tão simples) acto do dia-a-dia consegues fazer uma história magnífica! Tás lá, tens todo o meu apoio meu bro..

Abraço