terça-feira, 23 de setembro de 2008

Peça: Do Paraíso ao Inferno por Palavras

Personagens:

Actor Principal – Ele
Actriz Principal – Ela
Actores Secundários – Outros

Acto I (visão dele, acabando no Inferno)

Tudo começou com um simples olhar, e uma empatia que foi disfarçada aos olhos dos outros, por palavras, e acções contrárias ao que tinham sentido. O gosto de brincar com palavras, com recurso à ironia foi empregue subtilmente, e acção que se desenrolava entre os dois, moldou-se conforme o cenário (afinal o que é a Vida para além de uma peça de teatro!? onde se vive, mais em prol de circunstâncias, de ocasiões e dos outros, que de nós Próprios, SERES?).
Quando o cenário ficou mais desanuviado dos outros, e num acesso de semi-inconsciência, ele aproximou-se dela que estava sentada a mexer no seu telemóvel, e sem uma palavra, retirou-lhe da mão e marcou o seu número.
Nesse momento iniciou-se o Paraíso das palavras, a acção foi decorrendo ao longo de minutos, que se transformaram em horas. Os cenários e os outros alteraram-se, sem que os que observavam a acção realmente se apercebessem (afinal os outros, só são outros para terceiros, para eles próprios serão sempre ele ou ela e deste modo vêm-se sempre como personagens principais da peça).
Até que as palavras que anteriormente criaram o Paraíso, tornaram-se subitamente amargas e azedas, cortantes, frias e geladas... e se quando pensam em Inferno vos vem à cabeça imagens de chamas, calor, rios de lava, diabos e diabretes, escuridão, medo e desespero, PAREM! Imaginem um deserto gelado completamente estéril, onde estão sós...onde o ar que sai da vossa boca congela, e desse modo nem o som que podia sair das vossas cordas vocais vos acompanha.
Desse modo talvez percebam que o Paraíso congelou, ficou frágil, e à mínima pancada estilhaçou-se, ficando apenas fragmentos de nada, para além das imagens que possam ter ficado antes da sua transformação.




Acto II (visão dela, acabando no Purgatório)
Tudo começou com um simples olhar, e uma empatia que foi disfarçada aos olhos de todos, por palavras, e acções contrárias ao que ela sentia. Deste modo tudo mudou, e de um fim-de-semana banal, passou a um fim-de-semana que ficou na memória.
Começou da forma mais natural e bonita, pois para ela um olhar significa muito. Encontrar alguém que olha nos olhos, enquanto está a ser olhado nos olhos é muito raro, é preciso ter coragem e muita confiança em si mesmo.
Brincadeiras e ironias, foram criando a “sua relação”, parecia tudo tão estranho mas ao mesmo tempo tão certo. Entre danças, fotografias, e o mais importante olhares, sussurrou o inexplicável.
No meio do nada, ela segurava o seu telemóvel. E para seu espanto e contentamento, ele vindo do vazio, marcou o seu número. Na manhã seguinte um sentimento invadiu-a quando o viu. Algo estranho, imprevisível, e os olhares continuaram, tudo sempre em segredo, algo que só acontecia no mundo deles.
O tempo escoava-se, e de uma forma imprevisível, havia interesse mútuo. Porém multidões cercavam-nos, e o segredo manteve-os reféns dos seus desejos. Criaram algo, algo indefinível, algo tão certo e tão errado.
O fim-de-semana acabou, mas não as palavras e bastou apenas uma má interpretação para tudo desabar. Quebrou-se aquele sentimento, e assim todas as situações passaram a ser apenas memórias, memórias que ela recorda com um sorriso nos lábios.
Eles ainda se falam, mais do que esperava, possíveis encontros podem surgir se assim o desejarem. Mas será que aquele sentimento volta? Ou terá sido apenas uma fuga de fim-de-semana?
A vida não pára nem nunca espera por ninguém. É como um comboio, está sempre em movimento, tem algumas paragens. É um risco muito grande entrar no comboio, mas é um risco ainda maior ficar apenas a olhar para ele a passar.
Conselho dela: Entrem no comboio, arrisquem, vejam onde a vida vos leva, vivam um dia de cada vez, pois a via mais maravilhosa é a inesperada e imprevisível, como aquele fim-de-semana.


3 comentários:

Anónimo disse...

do que li no teu blog gostei muito, gosto da forma como escreves.
e claro este texto é o meu preferido!
continua a escrever

p.s: the star of something new

Anónimo disse...

Que fim-de-semana especial...
Gostas de Saramago? Que pergunta...gostas de certeza!
Fiquei FÃ de ti.

Mary

Susana disse...

É precisa muita arte para saber gerir as palavras decentemente. Mas os silêncios também. Hehe.
Gostei especialmente da visão do inferno gelado.