quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Petrificações

Observou em silêncio e na penumbra, aquele corpo sentado, onde o negro preenchia o espaço moldando a carne, o cabelo compunha as formas, e a sua ausência de movimento, congelava a essência daquele ser, que se confundia com uma estátua de azeviche.
Olhou e continuou a olhar, com a respiração presa dentro de si, como se ao mínimo ruído quebrasse a imutabilidade daquele corpo, o rosto estava de perfil e a única coisa que conseguia distinguir era a forma do seu cabelo, e pequenos detalhes da nuca, nariz e lábios..o corpo permaneceu assim, frio e intemporal, como se estivesse suspenso no tempo e no espaço sem manifestar o mínimo movimento, ou interesse pelo que o rodeava.
Aos poucos, e à medida que o tempo passava e perdia qualquer significado, o observador sentiu-se como o “objecto” da observação, suspenso no tempo e no espaço, simplesmente a olhar, sem pensar ou reagir...apenas a observar e sentir que do lado de lá, estava um corpo negro que absorvia toda a luz, e prendia toda a sua atenção.
O silêncio mantinha-se e adensava o pequeno mistério naquela hora de escuridão, ou seria iluminação? em que sentiu que por vezes um corpo, se pode transformar na mais completa ausência material.

4 comentários:

Susana disse...

A melhor obsessão é a obsessão pelo desconhecido.
Nice. :)

Catarina disse...

Tomei por hábito visitar-te. A tua escrita reporta-me para lugares diferentes... Continua!

Beijo

Anónimo disse...

A tua chama inundou a minha alma...
continua

Mary

Anónimo disse...

Maravilhoso.
A tua escrita desperta-me os mais variados estados de espírito. Este lugar é cada vez mais o meu refúgio, onde a minha mente se solta e, contigo, experimento a liberdade espiritual.
Estudo Psicologia e pela tua escrita, percebo que temos interesses comuns e que és uma pessoa bem disposta, apesar de escreveres com um sentimento imenso.
Continua.