domingo, 3 de maio de 2009

Sentimentos...

Sentado num banco do aeroporto, enquanto esperava o embarque no avião que o levaria de volta a Portugal sentiu-se diferente. Não devido ao aspecto exterior que pouco se tinha alterado, mas uma pessoa que já não era aquela, que pisara o mesmo chão 3 semanas antes.

Sentiu que aquelas semanas o marcaram, o mudaram de um modo mais profundo do que alguma vez esperaria. Sentiu-se mais responsável, mais adulto...mais amadurecido. O tempo com todas as suas diferentes dimensões é algo muito subjectivo e pouco preciso. Longe do país, curto ao mesmo tempo e numa dimensão interior, uma longa jornada.

Enquanto a fila para embarcar aumentava de comprimento, ponderava no seu aspecto exterior, o chapéu de palha no topo da cabeça, os óculos de sol old-fashion e o curto bigode compunham o panorama geral. Rapidamente esqueceu estes assuntos mais supérfluos e continuou a meditar na sua transformação interior. Sem dúvida que aquelas 3 semanas, cada uma com as suas particularidades foram bastante diferentes umas das outras. Na primeira e numa viagem pela Costa Brava, voltou a sentir a liberdade e a felicidade de dormir no meio da natureza, sem uma alma viva que não a do seu amigo. Na segunda buscou o corpo e a alma de Barcelona através de conversas e observações, da procura de locais fora do circuito turístico e de locais de ócio, desde os restaurantes até às discotecas, passando pelos cafés, taparias e bares. Na terceira e última, talvez a semana que psicologicamente fez maior diferença e nessa semana o que aconteceu de tão especial? Apenas a entrega de currículos para a procura de emprego. Este pequeno detalhe à primeira vista “inofensivo”, funcionou como um despertar da consciência para um futuro muito próximo, o mundo do trabalho, das responsabilidades e ao mesmo tempo das oportunidades. Inicialmente um pouco assustadora, esta realidade representa sem dúvida um futuro aliciante, o de não depender de terceiros para sustentar-se e de poder finalmente buscar aquilo que sonha e deseja, sem existirem pesos de consciência ou remorsos.

A fila ia diminuindo e vontade de embarcar diminuía com a mesma velocidade, deixou-se ficar para o fim, como se o facto de ser o último a entrar no avião fosse uma espécie de protesto. Com algum desconforto acabou por partir e adormeceu após a descolagem, o cansaço da última noite em que não dormiu acentuou-se com a altitude e só voltou a acordar quando estava prestes a aterrar em Lisboa. Quando aterrou o seu estado de espírito estava como a noite que o acolhia, fria e insensível. Recolheu a bagagem e ligou para a mãe a avisar que estava de volta, será que estava realmente? Tentou ligar para a irmã e para uma amiga, mas do outro lado nenhuma resposta. Decidiu por isso apanhar um autocarro para a praça do Areeiro e daí seguir para o Monte da Caparica, a viagem pela noite escura foi veloz e o sentimento que o invadiu quando saiu na paragem, foi o de se sentir como um D.Sebastião, envolto em nevoeiro e a entrar nas trevas. No fundo a chuva e o frio medonho acentuaram esse sentimento. Ao passar pelo bairro que o acolhia há quase seis anos, sentiu que estar ali não fazia qualquer sentido, era absurdo e que estava completamente deslocado.

Ao subir as escadas que o levavam ao apartamento e mais especificamente ao seu quarto não sentiu qualquer sentimento positivo e quando finalmente abriu a porta do quarto, quase não o reconheceu. Tudo era estranho, distante e o reconforto que esperava deste contacto não chegou a acontecer. As 3 semanas revelaram-se um fosso demasiado fundo para um contacto material aliviar a tensão, só nos dias seguintes o contacto humano o foi ambientando novamente, até estas linhas finais...

1 comentário:

Anónimo disse...

Epa! Sinceramente, acho que vou sentindo isso sempre que viajo! Estranho né?!