sexta-feira, 6 de junho de 2008

Noites...

Dirigiu-se para os Jerónimos, sem saber bem o que esperar. Afinal fora a apenas dois dias, que o “mundo” Rodrigo Leão lhe tinha sido apresentado pelo Youtube, onde ao ouvir as primeiras sonoridades e acordes musicais sentiu uma “simpatia” e prazer, que levaram à aceitação imediata do convite que a sua irmã lhe endereçara um par de horas atrás.
Chegados ao local e após um estacionamento semi-legal, dirigiram-se para a entrada do lindíssimo Mosteiro dos Jerónimos que aquela hora do crepúsculo e iluminado adquiria contornos de grandiosidade e monumentalidade, que por vezes escapam em momentos onde o Agora não está presente.
As pessoas aglomeravam-se ora organizadas, ora dispersas, em grupos, sozinhas, procurando alguém ou ninguém, num amontoado disforme ou numa fila compacta que avançava rapidamente e era engolida pelo Mosteiro que aguardava, impávido e sereno, na sua clara beleza, pronto a maravilhar o espectador mais exigente.
Entraram, expectantes e sorridentes, dirigindo-se para onde a massa humana fluía, serenamente, sem pressas e atropelos, afinal estavam entre criaturas de bem. Desembocaram nos claustros, o palco ao fundo engalanado, negro e nervoso, pela espera dos músicos que o iriam pisar nos momentos seguintes, contrastava com a serenidade e harmonia, que emanava das paredes de pedra das quarenta arcadas (divididas simetricamente entre superiores e inferiores), que delimitavam o espaço físico e estavam iluminadas por projectores, que corriam o espectro da luz visível. Cadeiras de madeira espalhavam-se pelo espaço central e pelas laterais até ao palco, prontas a receber e acomodar os espectadores, durante os momentos que se seguiriam.
Dirigiram-se a um local um pouco elevado para melhor visualização, sentaram-se confortavelmente, onde felizes e despreocupados trocaram dois dedos de conversa, aguardando tal como o palco a entrada dos artistas. A espera foi breve, assim como a transformação do crepúsculo em noite, algumas estrelas brilhavam no céu, a temperatura era agradável, e fiapos de nuvens corriam no céu incansavelmente.
Gerou-se fumo no palco, as luzes dos projectores desceram de intensidade, até à escuridão quase absoluta, o público ficou expectante, os músicos entraram e o concerto começou. O ambiente envolvente, os acordes, a voz transformaram a primeira música num momento mágico, para os dois irmãos (e para concerteza muitas mais almas presentes) e se para a irmã parecia que estava na Grécia em tempos longínquos, para ele parecia que o tempo estava puramente suspenso.
As músicas eram tocadas umas atrás de outras, a melodia invadia e inebriava os sentidos, mas não o coração, os morcegos faziam breves aparições, acompanhando as gárgulas e os dezasseis anjos de pedra e luz, que apenas mentes mais imaginativas conseguiam observar, quer no Inferno, Purgatório ou Paraíso. As gaivotas grasnavam e aproveitam a brisa do suave zéfiro, para planarem alegremente, e fazerem lembrar aos espectadores que estavam próximos do mar, donde seis séculos atrás os bravos Lusos partiram à descoberta de novos mundos e que o local onde se encontravam fora o expoente máximo desse Império criado do nada.
Ao reparar em todos estes detalhes, o espaço ganhou uma dimensão mais rica, e envolveu quem deles se foi apercebendo ao longo do tempo. O público estava em plena comunhão com os músicos e com o ambiente, respondendo com a melodia ritmada e constante de palmas, às sonoridades e música que saía de cada instrumento, ou voz, quer esta se expressa-se em português, francês, brasileiro, inglês e espanhol, não interessava. A língua universal era a música. O concerto acabou, os artistas levantaram-se foram aplaudidos de pé, e uma gigantesca salva de palmas acariciou-lhes os sentidos, voltaram a entrar, tocaram mais quatro músicas divinas, e acabaram por retirar-se definitivamente em apoteose. Quando o concerto acabou, olhou para o relógio e verificou que este tinha durado sensivelmente noventa minutos, sentiu um privilégio enorme por ter estado presente num momento tão especial e disse em voz alta: “ Há dias que não valem um minuto, mas há minutos que valem dias”.
06-06-2008

1 comentário:

MaB disse...

Foi tão bonito, não foi?:D