segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O silêncio só de ontem

Entrou devagarinho, como quem não pode despertar os mestres. À sua recepção, silêncio, doçura e muito pó, tanto que tapava todas as superfícies visíveis. Mas o seu ego não contestou, recriminou ou mal disse.
Nessa casa antiga, todas as banalidades são para respeitar. Começou a varrer aberta ao sujo, que naquele lugar não era sujo. Era simplesmente pó. Muito pó. A sua ausência de muitos tempos, que lhe dava as boas vindas. Sorriu, agradeceu e sentiu-se na sua verdadeira casa, a casa da ausência.
Viu e tocou nas bolotas secas, achou-as lindas mas tristes. Olhou os ramos de azeitonas mirradas e as romãs empedernidas. Remirou os vestígios e tudo o que viu disse-lhe sim. Que eram como ela, diferentes do que tinham sido, mas eram os mesmos, só que transformados e resistentes.
Começou a varrer, mas penalizada por ir destruir aquelas miragens que tinham crescido para ela e que a saudaram com total devoção quando chegou. Eram as suas ramificações. Ao limpar a casa pediu desculpa por destruir as suas roupagens e os seus corpos. Afinal era uma intrusa naquele lugar de bichos, mas não sentiu raiva nem desânimo, ou desespero naquela casa que tanto amava mas onde o lixo se tirava com a pá.
Estava pacificada e limpava com amor e alegria, naquela sexta feira de solidão a mulher perguntava.
- O que tinha aquela casa, que tanto lhe dava?
Perguntou à lua que espreitava, mas a lua não disse nada. Perguntou à aragem e a resposta? Talvez paz!? Sim a casa tinha paz.
A mulher limpava e quanto mais limpava, mais bonita a casa ficava. Era noite tardia e veio um gato sondar…lavou e limpou. Agora a casa sorria e estava de novo jovem e bela.

Autora: AM

1 comentário:

Catarina disse...

Que texto espectacular...

:]