- Tens algo que se beba?
- Não, mas tenho cigarros. Queres um? Não são de enrolar mas...
-Porque não?! Conheço-te à vinte e dois anos, e nunca tive o prazer de fumar um cigarro contigo.
Sorriu e estendeu a mão à procura daquele pequeno cilindro branco, suficientemente suave ao contacto para lhe acariciar os dedos, que se estendiam como garras à procura de mais uma pequena dose de morte concentrada de nicotina, alcatrão e aditivos. Agarrou-o, e antes de o acender passou com ele pelo nariz, para sentir o ténue odor que se soltava.
Passaram-lhe o isqueiro para a mão, o barulho do gás a soltar-se, e o rápido gesto do polegar accionando a pequena roldana de metal contra a pedra, gerou uma faísca que instantaneamente se transformou numa pequena chama amarelada e alaranjada que rapidamente criou a combustão, a sua boca colou-se ao filtro, puxou o ar e o cigarro ao acender-se, entrou em fase de auto-destruição.
Durante uns momentos ficou calado, apenas a saborear o fumo que exalava do cigarro, e o silêncio que se abatia sobre ambos. Olhou-a e continuou calado durante mais uns instantes, afinal o silêncio partilhado é um privilégio que nem todos os dias se sente, e nem todas as pessoas o sentem.
Regra geral as palavras, tentam à força quebrar, esses raros momentos, como se fosse vital que a boca se abrisse e soltasse uma composição de sons, a que se pode dar o nome de palavras. A verdade é que nunca percebeu muito bem, porque motivo a mente não percebe que com silêncio, por vezes se diz muito mais que com palavras, mas afinal a mente confiante do seu papel, e da supremacia das palavras não aguenta muito tempo sem lançar esta pequenas provas de inteligência humana.
Os sons quebraram o silêncio, como o vidro que se estilhaça no chão e soltou:
- Estar aqui a “partilhar” este cigarro contigo (afinal cada um tinha a sua pequena dose de morte concentrada), é uma boa sensação...
- É, é diferente...
- Sem querer parecer demasiado egoísta, há situações em que...não sei...mas estar aqui contigo neste momento...
- Que queres dizer?
- Bem...o que queria dizer é que...sinto-me bem com a tua presença, e sinto-me egoísta porque estamos aqui os dois, e isso já não acontecia à tanto tempo...
- Humm..é verdade..mas agora estamos.
Continuou a fumar, e a soltar o doce fumo espesso, concentrado nessa “tarefa”. Afinal a repetição dos pequenos gestos em que consiste fumar, fazia com que as palavras se mantivessem ausentes, e desse modo sentiu que o cigarro se transformou no símbolo do seu silêncio, e na sepultura das suas palavras de egoísmo.
- Não, mas tenho cigarros. Queres um? Não são de enrolar mas...
-Porque não?! Conheço-te à vinte e dois anos, e nunca tive o prazer de fumar um cigarro contigo.
Sorriu e estendeu a mão à procura daquele pequeno cilindro branco, suficientemente suave ao contacto para lhe acariciar os dedos, que se estendiam como garras à procura de mais uma pequena dose de morte concentrada de nicotina, alcatrão e aditivos. Agarrou-o, e antes de o acender passou com ele pelo nariz, para sentir o ténue odor que se soltava.
Passaram-lhe o isqueiro para a mão, o barulho do gás a soltar-se, e o rápido gesto do polegar accionando a pequena roldana de metal contra a pedra, gerou uma faísca que instantaneamente se transformou numa pequena chama amarelada e alaranjada que rapidamente criou a combustão, a sua boca colou-se ao filtro, puxou o ar e o cigarro ao acender-se, entrou em fase de auto-destruição.
Durante uns momentos ficou calado, apenas a saborear o fumo que exalava do cigarro, e o silêncio que se abatia sobre ambos. Olhou-a e continuou calado durante mais uns instantes, afinal o silêncio partilhado é um privilégio que nem todos os dias se sente, e nem todas as pessoas o sentem.
Regra geral as palavras, tentam à força quebrar, esses raros momentos, como se fosse vital que a boca se abrisse e soltasse uma composição de sons, a que se pode dar o nome de palavras. A verdade é que nunca percebeu muito bem, porque motivo a mente não percebe que com silêncio, por vezes se diz muito mais que com palavras, mas afinal a mente confiante do seu papel, e da supremacia das palavras não aguenta muito tempo sem lançar esta pequenas provas de inteligência humana.
Os sons quebraram o silêncio, como o vidro que se estilhaça no chão e soltou:
- Estar aqui a “partilhar” este cigarro contigo (afinal cada um tinha a sua pequena dose de morte concentrada), é uma boa sensação...
- É, é diferente...
- Sem querer parecer demasiado egoísta, há situações em que...não sei...mas estar aqui contigo neste momento...
- Que queres dizer?
- Bem...o que queria dizer é que...sinto-me bem com a tua presença, e sinto-me egoísta porque estamos aqui os dois, e isso já não acontecia à tanto tempo...
- Humm..é verdade..mas agora estamos.
Continuou a fumar, e a soltar o doce fumo espesso, concentrado nessa “tarefa”. Afinal a repetição dos pequenos gestos em que consiste fumar, fazia com que as palavras se mantivessem ausentes, e desse modo sentiu que o cigarro se transformou no símbolo do seu silêncio, e na sepultura das suas palavras de egoísmo.
1 comentário:
Ahah, sim porque mais vale um cigarro manufacturado que um cigarro industrial! xD
Acho que há uma cena no Big Fish em que o gajo diz qualquer coisa como: "Sabes que encontraste a mulher da tua vida quando consegues partilhar um silêncio sem que este se torne embaraçoso." Ou algo do estilo. Também posso estar enganada. Mas foi do que me lembrei.
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