domingo, 25 de maio de 2008

Mais um dia...

Acordou a meio da noite, a mente envolta em sombras e enrolada como um novelo cinzento, não se lembrava onde estava, que dia era, nem sequer quem era, o corpo coberto de suor, um suor viscoso e gelatinoso que se agarrava a cada centímetro de pele, que lhe dava uma sensação de desconforto, que aumentava devido às dores lacinantes que sentia no corpo, e que lhe queimavam os músculos entropercidos. Fez uma ténue tentativa para se mexer, mas logo desistiu tal era a sensação de mal estar que lhe tolhia os sentidos, em vez disso tentou reconstruir aos poucos o que lhe tinha acontecido nos momentos anteriores a acordar naquele colchão de esponja, imundo e roto, naquele chão de madeira sem cor definida e semi-comido pelas térmitas, que há muito tinham invadido aquele prédio, e feito dali o seu refúgio do mundo da luz, o problema é que tinham que dividir o prédio com mais inquilinos, baratas, ratazanas, aranhas, lagartas, vermes e seres humanos.
Olhou em seu redor, e viu parte da resposta às suas perguntas, ao seu lado estava uma colher retorcida e carbonizada, uma seringa, um garrote e um pouco de pó acastanhado, “Foda-se, será que dá pra mais um chuto?”, rapidamente percebeu que estava a ressacar, que estava no seu lar, que o dia era apenas mais um no meio de tantos iguais e repetidos sem que nada de novo realmente acontecesse.

1 comentário:

Irritadinha disse...

Até ao novo chuto, tudo continuava na mesma... normalidade, se calhar tão viscosa como o suor...